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Foto do escritorMaria Amaral

Champanhe – introdução a sua história


“Toda guerra serve para forjar e reforçar laços pessoais, e com o champanhe não seria diferente. Originário da região de Champagne, localizada a cerca de 150 km de Paris, na França, teve as primeiras vinhas cultivadas pelos romanos, e mantidas depois pelo clero e comunidades religiosas de Reims e Châlons.”


No entanto, pode-se afirmar a partir de documentos, que o Champanhe é no plano histórico, o primeiro espumante produzido em um território determinado, e de forma regular por produtores locais. E na região de Champagne existe apenas uma única denominação de origem: Champagne AC (Appellation Contrôlée).

Porém, essa história é um pouco mais complexa e poderia ser contada a partir do século XVIII, quando os pioneiros Moët, Ruinart, Roederer e Heidsieck começavam a cortejar as cabeças coroadas daquela época, para o lançamento do champanhe nas cortes de Londres e Paris. A adoção desse vinho espumante por monarcas do século XVIII, nada mais foi do que um folclore de uma indústria, que conseguia converter as relações públicas, numa forma de arte.

Mas, um século antes de ser lançado, o champanhe seguira pelo menos sobre 03 carreiras distintas: como um dos vinhos brancos, não espumantes, mais renomados da França; como um respeitável vinho tinto capaz de constituir uma alternativa para os borgonhas mais leves; e como o vinho efervescente dos ricos pecadores.

Contudo, para que esse vinho efervescente se tornasse universal e pudesse viajar para o exterior com segurança e em quantidades industriais, ainda era preciso solucionar muitos problemas de ordem técnica. E apesar de dom Pérignon ter feito do champanhe o vinho dos príncipes, coube a Nicole-Barbe Clicqout-Ponsardin, também conhecida como a viúva Clicquot, convertê-lo no vinho das celebrações realizadas no mundo todo. Ela teve a sorte de poder contar com um talentoso vendedor, m. Bohne, que seu falecido marido conhecera na Basiléia. E foi através da arte de clarificar o vinho, eliminando o seu sedimento, que a viúva trouxe uma significante contribuição ao aprimoramento dessa bebida.

Entretanto, muito ainda teve que ser melhorado, até chegarem ao processo de colocação inclinada das garrafas em puprites, começando a utilização do método marc, onde a garrafa fica numa posição emborcada, para somente então, através do método de rémuage, faz-se o giro delas para que a sedimentação se concentra sobre a rolha, e ao retirar a rolha através do método de dégorgement, o sedimento é o primeiro a sair, não havendo a necessidade de decantar o vinho, o que acarretava a perda do “borbulhar” do líquido.

Operação de Rémuage das garrafas.

Sendo assim, em 1820, quatro casas famosas entraram no mercado: Irroy, Joseph Perrier, Mumm e Bollinger, levando a venda total de champanhe efervescente em fins do século XVIII em torno de 300 mil garrafas, chegando em 1853 a aproximadamente 20 milhões de garrafas.

Porém, durante o longo trabalho de dom Pérignon, alguns empecilhos foram encontrados pelos produtores, que enfrentavam explosões das garrafas abaixo do solo, pela sua resistência duvidosa, tendo praticamente 80% das garrafas danificadas em 1828. Esse incidente foi chamado de casse (quebra de garrafas). As garrafas de vidro da época não suportavam tamanha pressão interna, resultando em explosões frequentes. Observando este fato, dom Pérignon começou a utilizar as garrafas de champanhe como as que conhecemos hoje, com vidro mais espesso, de fundo côncavo e selada com um lacre e rolha de cortiça.

Então uma pergunta ainda não tinha sido resolvida, de que outra forma, além do paladar, seria possível calcular a quantidade de açúcar necessário para a segunda fermentação produzir o volume adequado de gás? Qual a quantidade de levedo que o vinho deveria conter? Provavelmente na garrafa o levedo desenvolvia uma atividade maior que a habitual, pois os levedos estavam envolvidos na fermentação. Mas somente em 1866, com a ajuda de André Jullien, pode-se afirmar que a média de casse estava em torno de 15% a 20%.

Portanto, para que o champanhe primitivo chegasse a seu contexto moderno, faltava apenas eliminar a doçura (semelhante ao do Sauternes) - o que fazia dele um vinho de sobremesa - e transforma-lo numa bebida que pudesse ser combinado com qualquer refeição, ou que pudesse integrar a nova moda do apéritif (palavra integrada ao vocabulário em 1894). A maneira como se costumava beber champanhe nas décadas de 1840 e 1850, justificava em parte sua extrema doçura e o formato coupe da taça, com bojo largo e raso.

Somente em 1848 é que ocorreu, a ideia do champanhe seco, por um comerciante londrino de nome Burnes, o então Perrier-Jouët - safra 1846, no estado natural sem adoçante. Generalizando-se a prática com uma extraordinária safra em 1874.

A partir desse momento o champanhe pode ser produzido em uma escala industrial, dando assim um caráter especial à bebida, na qual sua fabricação tem inicio onde a de outros vinhos costuma terminar. Esse é o resultado de um trabalho incessante, de paciente habilidade, de precauções minuciosas e de atentas observações.



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